quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Considerações sobre Aquele País para leigos

Os historiadores discordam sobre o momento a partir do qual Aquele País poderia ser considerado como tal. É verdade que mesmo após o violento processo de unificação, suas populações nunca se sentiram unidas. Também é verdade que já muito antes disso, a história de todas as regiões parecia ser sempre igual. A língua que se denominou comum nenhum falante ou linguista sabe dizer de onde veio. Pesquisas apontam origens eslavas, árabes e toltecas, entre outras.

A identidade racial se perdera antes da unificação, com as migrações em massa nas primeiras corridas industriais. Via de regra, os habitantes tem as cabeças redondas ou ovaladas. As orelhas são caracterizadas pela existência de uma ligação entre o lóbulo e o restante do rosto, mesmo que não seja raro observar quem não a tenha. Tanto para os ocidentais quanto para os orientais, os moradores daquele país parecem envelhecer em ritmo comum. Normalmente, os mais velhos são aqueles que nasceram há mais tempo, seguidos pelos mais novos, que são aqueles que vieram depois. Embora sejam poucos os momentos da Sua História em que isso constitua uma lei ou tabu (momentos esses que pareceram intermináveis, se vistos de dentro), desde sempre e sabe-se lá até quando é mais comum que os mais velhos morram após um tempo. Por isso, década a década, os mais jovens costumam tornar-se mais velhos e trazem outros, de algum lugar que não se recordam, para tomarem seu lugar. Esse costume tem paralelos em todo o mundo, mas lá ora ocorre de maneira peculiar.

Não existe palavra para opressão na maioria das línguas nativas, mas um cidadão pode conhecer até quarenta formas diferentes de dizer farinha. Tanto o trigo quanto o arroz crescem fertemente pelas vastas paragens, enquanto o leite é extraído em regiões montanhosas. No dialeto da região da capital, considerado mais puro, a palavra para cidadão é a mesma que para solitário e as palavras fronteira e morte se pronunciam iguais, apesar da grafia diferenciada. O radical de todas essas palavras, usado isoladamente, significa fim, ou fim do meu tormento, ou amanhã, dependendo do contexto. Nas outras regiões, as semelhanças ainda são observadas, mas com diferenças e sutilezas.

Nenhum governante dAquele país, em nenhum dos milhares de sistemas de governo que já se tentaram por lá, jamais morreu feliz. Porém é dito que todos, graças a tudo ou apesar de tudo, sempre tiveram o sono tranquilo.

2 comentários:

catu disse...

:}.

paula davies disse...

tomei vergonha na cara e vim tomar um cafezinho por aqui... =)